Manifesto

Francis Bacon, Triptych, 1973

Eu sempre disse que escrever é como cagar, independentemente da forma como os aburguesados interpretem a noção.
É uma coisa orgânica, resulta de uma digestão. A gente senta-se e faz.
A única certeza que resta por via do alívio que provoca é que, mesmo sendo merda, é nossa, e, como tal, está fora do nosso sistema.
Ou então, não. Não é como cagar. E não é merda. Ou mesmo que seja, pode ser que não cheire. É certo que há a que, cheirando tão mal como outras, vem de cus mais empoados em talcos de marca e lavados com sabonetes Ach Brito, beijados pelo público que nunca experimentou cagar as mesmas sentenças e da mesma maneira e como tal não vê que o cu, além de nu, vai bem embolado.
Há merda bem encadernada. Merda auto-proclamada. Merda que cheirando bem não deixa de ser merda.

Mas a verdadeira é a que alivia, que digere, que limpa. E que depois se deita fora, que esse, sim, é o máximo luxo da merda que não cheira.